MONTANHAS IBÉRICAS

Neste Blog partilho com os leitores a minha paixão pelas Montanhas Ibéricas, lugares únicos, cada vez mais raros, onde a beleza das paisagens, a preservação dos ecossistemas e a utilização sustentável pelo homem se unem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

21 outubro 2007

MONTESINHO INDEFESO...

Publicada por Paulo Almeida Santos



Depois de definitivamente consumada a decisão que autoriza a construção da Barragem do Sabor, o assalto ao património natural do Nordeste Transmontano continua a não dar tréguas, agora que a viabilização do maior parque eólico europeu na área do Parque Natural de Montesinho (PNM) ganha cada vez mais corpo.
As minhas desconfianças explanadas há meses neste espaço confirmaram-se na íntegra. Uma empresa que surge com um mega-parque eólico para o PNM, prometendo "mundos e fundos" às carenciadas populações locais. O poder autárquico local que, em massa, falou do projecto como se de algo inevitável se tratasse. Tudo isto acontecia numa altura em que os passos finais da elaboração do plano de ordenamento do PNM estavam a ser dados e em que o parecer técnico era claramente desfavorável à exploração eólica do parque. Chegou a fase de discussão pública e, como se esperava, o apoio político ao projecto foi esmagador, nomeadamente pela figura do Sr. Ministro do Ambiente. Após concluída a fase de discussão pública, falta a decisão final que irá ser tomada brevemente em Conselho de Ministros. Só os anjinhos acreditam que o empreendimento não vai avançar... E o PNM vai mudar definitivamente de rosto, graças ao excelente contributo de meia dúzia de engravatados que não têm a mínima sensibilidade e conhecimento para avaliar a destruição que vão provocar...
No meio de tantas notícias sobre este tema ao longo dos últimos meses, gostaria de referir duas, uma pela positiva e outra pela negativa.
Em primeiro lugar, elogiar a frontalidade e a coerência do ICNB que, por intermédio de Henrique Pereira dos Santos, demonstrou a incompatibilidade deste projecto com a preservação dos valores naturais destas montanhas.
Em sentido contrário, a posição da Quercus sobre este tema deixou-me profundamente indignado e revoltado! Então estes senhores, representantes da ONG ligada ao ambiente com maior projecção nacional, vêm defender a colocação de eólicos dentro do PNM??? Ontem contra a Barragem do Sabor, hoje a favor de eólicos em áreas protegidas? Quais são os critérios? Terá sido um parecer precipitado, individualizado, ou, pelo contrário, mais um passo no sentido da governamentalização e mediatização desta instituição? Interesses escondidos...? Talvez... Já acredito em tudo... Fazendo uma pesquisa no sítio da Quercus na Internet com a palavra-chave "Montesinho", esta apenas aparece em 5 ocorrências, a última de 2005! Já da palavra "aeroporto" resultam 30 mensagens... Sintomático, não? Não me lembro do movimento conservacionaista nacional ter batido tão fundo... Mais valia estarem calados...
A mensagem final que gostaria de deixar é esta: de cedência em cedência, de mini-parques eólicos a grandes empreendimentos, o que é certo é que as nossas serras estão a ser polvilhadas por ventoinhas que, para além de provocarem a artificialização das paisagens, outrora naturais e selvagens, condicionam impactos claros nas comunidades locais de plantas e mamíferos, levando ainda ao incremento da desertificação do interior, ao contrário do que muitos advogam.
Termino com a exposição de um mapa da região Norte de Portugal, onde tentei colocar os empreendimento eólicos concluídos, juntamente com os novos projectos para o concelho de Bragança. O cenário é desolador... Sobra o Parque Nacional da Peneda-Gerês, cada vez mais sufocado pelo cerco dos aerogeradores... Será o próximo, não tenho dúvidas...

As nossas serras estão a saque...