MONTANHAS IBÉRICAS

Neste Blog partilho com os leitores a minha paixão pelas Montanhas Ibéricas, lugares únicos, cada vez mais raros, onde a beleza das paisagens, a preservação dos ecossistemas e a utilização sustentável pelo homem se unem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

14 outubro 2005

ÚLTIMOS VESTÍGIOS DO GRANDE PREDADOR

Publicada por Paulo Almeida Santos


Temos necessidade de recuar até à Idade Média para reportar a extinção do Grande Predador em Portugal, quando em 1670 foi morto na área da Peneda-Gerês o último urso pardo (Ursus arctos) em estado selvagem, indiciando, já nessa altura, a frágil sensibilidade Lusitana no que toca às questões ambientais.
A última prova física da presença do urso nas nossas serras está representada por construções primitivas, destinadas a proteger as colmeias, cujo mel teve, em tempos longínquos, importância estratégica na gastronomia e práticas medicinais populares. Cortin (Astúrias/Ancares), silha/colmeal (Gerês/Peneda/Montesinho), muros (Beira Baixa/Alto Alentejo) ou malhada (Serpa), são todos eles sinónimos para designar este tipo de edificações que, por sua vez, indicam uma ampla distribuição geográfica no contexto peninsular.
A sua origem remonta a um período histórico anterior ao séc. XVI, podendo admitir-se uma cronologia posterior à Época Romana.
No que diz respeito à estrutura, a sua forma é aproximadamente circular, com diâmetros que variam entre os 27 e os 12 metros. A parede, que pode atingir os 4 metros de altura e uma profundidade de 1 metro, é formada por lajes e blocos sobrepostos de xisto ou granito. São geralmente rematados no topo por lajes maiores, para impedir a entrada de animais selvagens. Existe ainda uma pequena porta de madeira para acesso ao interior.
Quanto à implantação, as silhas localizam-se quase sempre no fundo de vales, junto a linhas de água e em zonas de forte declive. De facto, a presença de água é imprescindível na produção apícola, para a diluição da papa utilizada na alimentação das larvas e para liquefazer o mel já cristalizado nas células. Por outro lado, a existência de mais vegetação nestas zonas constitui uma importante fonte de pólen para as abelhas.
Como foi referido anteriormente, a principal função destas construções é a de proteger contra os "ataques" de animais silvestres, nomeadamente o urso pardo (Ursus arctus), o texugo (Meles meles) e o saca-rabos (Herpestes ichneumon). Acrescenta-se ainda a protecção contra os incêndios e o vento, explicada em grande medida pela localização em zonas abrigadas e com grande humidade (vales fluviais).
Apesar de, entre nós, estas relíquias nos fazerem lembrar, com tristeza, a extinção de uma espécie tão importante com o urso pardo, alegra-me saber que, no norte da Península, o Grande Predador continua a vigiar as silhas em busca de alimento...

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