A Calzada Romana, mais vulgarmente conhecida por Camín Real de la Mesa, é uma via de comunicação pedonal construida nos tempos do imperador romano Augusto e que, durante séculos e séculos, até aos dias de hoje, foi sendo sucessivamente usada por colunas militares, comerciantes, viajantes, pastores e, mais recentemente, por caminheiros.
Trata-se de uma via destinada a fazer a ligação entre a meseta castelhana (mais concretamente o vale de Babia) e o centro das Astúrias, cujo traçado, discorrendo em sentido sul-norte, apresenta desníveis suaves, evitando a descida aos profundos vales que o delimitam e permitindo, assim, amplas panorâmicas, o que em termos militares viria a revelar-se estratégico.
Na verdade, o Caminho Real iria ficar para sempre conotado com este cariz militar, desde as companhas romanas que levaram à romanização da Península Ibérica, passando pelas invasões dos vândalos, suevos e visigodos no séc. V, até à chegada da investida muçulmana ao norte e posterior Reconquista.
Graças a tudo isto, ao longo dos tempos foi deixado aqui um vasto conjunto de vestígios étnicos, históricos, culturais e humanos, muitos dos quais permanecem intocáveis até aos dias de hoje.
Outro valor não menos importante deste lugar é o riquíssimo património natural que envolve a Calçada Romana, coexistindo aqui todos os elementos vegetais e faunísticos que caracterizam os ecossistemas montanhosos do norte da Península.
No topo da cadeia trófica destaco o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) que, à semelhança dos estrategas militares do passado, usa frequentemente este caminho para percorrer grandes distâncias e controlar, com astúcia, os profundos vales que o delimitam, onde pastam "tranquilamente" grupos de ungulados silvestres, potenciais presas deste super-predador.
Trata-se de uma via destinada a fazer a ligação entre a meseta castelhana (mais concretamente o vale de Babia) e o centro das Astúrias, cujo traçado, discorrendo em sentido sul-norte, apresenta desníveis suaves, evitando a descida aos profundos vales que o delimitam e permitindo, assim, amplas panorâmicas, o que em termos militares viria a revelar-se estratégico.
Na verdade, o Caminho Real iria ficar para sempre conotado com este cariz militar, desde as companhas romanas que levaram à romanização da Península Ibérica, passando pelas invasões dos vândalos, suevos e visigodos no séc. V, até à chegada da investida muçulmana ao norte e posterior Reconquista.
Graças a tudo isto, ao longo dos tempos foi deixado aqui um vasto conjunto de vestígios étnicos, históricos, culturais e humanos, muitos dos quais permanecem intocáveis até aos dias de hoje.
Outro valor não menos importante deste lugar é o riquíssimo património natural que envolve a Calçada Romana, coexistindo aqui todos os elementos vegetais e faunísticos que caracterizam os ecossistemas montanhosos do norte da Península.
No topo da cadeia trófica destaco o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) que, à semelhança dos estrategas militares do passado, usa frequentemente este caminho para percorrer grandes distâncias e controlar, com astúcia, os profundos vales que o delimitam, onde pastam "tranquilamente" grupos de ungulados silvestres, potenciais presas deste super-predador.
A caminhada que vos proponho hoje discorre pelo sector mais bem preservado do Caminho Real (entre as aldeias de Torrestio e Bustariega), sendo delimitado, a ocidente, pelo vale de Saliencia , em pleno Parque Natural de Somiedo e, a oriente, pelo vale de Teverga, integrado no recém-criado Parque Natural das Ubiñas-La Mesa.
Como de costume realizei uma caminhada circular, fazendo o regresso por um trilho que discorre a meia encosta no vale de Saliencia, por entre conjuntos de típicas brañas somedanas.
O início da jornada tem lugar na isolada aldeia de Saliencia, situada no fundo do vale homónimo, na orla de um dos mais extensos faiais asturianos e rodeada por cumes escarpados que superam os 2000m de altitude.
Como de costume realizei uma caminhada circular, fazendo o regresso por um trilho que discorre a meia encosta no vale de Saliencia, por entre conjuntos de típicas brañas somedanas.
O início da jornada tem lugar na isolada aldeia de Saliencia, situada no fundo do vale homónimo, na orla de um dos mais extensos faiais asturianos e rodeada por cumes escarpados que superam os 2000m de altitude.
Saindo da aldeia pelo estradão de terra batida que conduz ao Alto da Farrapona, encontramos à nossa esquerda o início de um trilho marcado que conduz à Braña de la Mesa. Este sobe na diagonal pelo meio de um denso carvalhal, denominado El Pontón, classificado como Área de Uso Restringido, pelo que não é permitido abandonar o trilho em qualquer circunstância.
Chegados à orla do bosque, deparamo-nos com um espectacular desfiladeiro - a Foz de los Arroxos - cujas águas de despenham em cascatas sucessivas, delimitadas por abruptas paredes calcárias, até se juntarem, mais abaixo, ao rio Saliencia.
Trata-se de uma zona muito rica em termos faunísticos destacando-se, naturalmente, as aves rupículas, como é o caso da águia-real (Aquila Chrysaetos), do grifo (Gyps fulvus), da gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax) e, na primavera e verão, do abutre-do-egipto (Neophron percnopterus).
A transposição desta muralha natural faz-se através de um espectacular trilho que recorta a escarpa calcárea, o que nos faz sentir como que suspensos sobre o rio que corre 100 m abaixo!
Uma vez ultrapassado o desfiladeiro, olhando para trás, somos brindados com mais uma vista soberba, na qual os cumes do Cordal del Tarambicu, do outro lado do vale de Saliencia, aparecem enquadrados pelos contrafortes da Foz de los Arroxos.
Uma vez ultrapassado o desfiladeiro, olhando para trás, somos brindados com mais uma vista soberba, na qual os cumes do Cordal del Tarambicu, do outro lado do vale de Saliencia, aparecem enquadrados pelos contrafortes da Foz de los Arroxos.
A partir daqui a subida torna-se mais suave, discorrendo por entre um denso giestal, sempre junto ao rio, até atingirmos a Braña de la Mesa (1680 m), ponto importante deste percurso já que é aqui que temos o primeiro contacto com o Caminho Real. Aqui encontramos um conjunto de cabanas tipo corros, lamentavelmente deixadas ao abandono, em péssimo estado de conservação.
Entramos finalmente no Caminho Real!
Caminhando sem grande esforço, quase sempre á mesma altitude, podemos disfrutar tranquilamente da paisagem que nos envolve!
Chegamos em 10 min ao Collado del Muru (1642 m), local onde o trilho cruza para o vizinho concelho de Teverga. A partir daqui, no nosso horizonte perfilam-se os cumes da Peña Sobia, cujas verticais paredes são diariamente desafiadas (e violadas) por escaladores.
Caminhando sem grande esforço, quase sempre á mesma altitude, podemos disfrutar tranquilamente da paisagem que nos envolve!
Chegamos em 10 min ao Collado del Muru (1642 m), local onde o trilho cruza para o vizinho concelho de Teverga. A partir daqui, no nosso horizonte perfilam-se os cumes da Peña Sobia, cujas verticais paredes são diariamente desafiadas (e violadas) por escaladores.
Ao longo do Caminho podemos observar com regularidade alguns marcos seculares.
Em pouco mais de 15 min atingimos um imenso prado verdejante -La Madalena- local onde voltamos a cruzar para o concelho de Somiedo. Aqui podemos contemplar o bosque de Saliencia em todo seu esplendor!
Continuando a caminhada enfrentamos, agora, uma ligeira subida que cruza a vertente sul do cume La Granda Blanca (1773 m). Chegamos a uma zona mais elevada.
Em dias límpidos e com a ajuda de uns binóculos, olhando em direcção nordeste, distingue-se no horizonte o recorte escarpado dos Picos da Europa.
Em dias límpidos e com a ajuda de uns binóculos, olhando em direcção nordeste, distingue-se no horizonte o recorte escarpado dos Picos da Europa.
Rodando o nosso campo visual em direcção sudeste, identificamos uma discreta elevação -Las Piedras (1927 m)- que constitui um privilegiado miradouro da vertente leonesa do maciço da Peña Ubiña.
Para completar o "quadro", falta-nos apenas contemplar tranquilamente a cabeceira do vale de Saliencia... respirar fundo... sentir a brisa fresca que sobe do fundo do vale...
É nestas alturas que nos sentimos verdadeiramente honrados por sermos testemunhas de tão fantástico cenário!
É nestas alturas que nos sentimos verdadeiramente honrados por sermos testemunhas de tão fantástico cenário!
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Destacam-se, à esquerda, os cumes do El Muñón e Los Bígaros e, à direita, os Picos Albos
Caminhamos neste momento protegidos pela sombra da face sul da vistosa Peña Negra (1836 m). Esta é a altura certa para abandonar o Caminho Real. O objectivo é descer a encosta aproveitando alguns trilhos de pastores e animais em direcção à braña de Ordiales de Arbellales, situada cerca de 200 m abaixo.
Neste ponto temos acesso a um cómodo estradão em terra batida, que atravessa vários conjuntos de típicas brañas somedanas em excelente estado de conservação, propriedade de cada uma das povoações do vale de Saliencia. El Collau, Morteras de Ordiales e Morteras de Saliencia são alguns dos nomes destas autênticas relíquias etnográficas.
Abandonamos as últimas cabanas ainda iluminadas pela ténue luz outonal do fim do dia...
A atmosfera silenciosa é interrompido a espaços pelos últimos bramidos da "berrea"...
Mais acima, um veado macho persegue, incansável, um grupo de fêmeas por entre uma manada de vacas!!!
Já só nos falta uma descida abrupta até à povoação de onde partimos...
Como é normal no vale de Saliencia, o dia termina sempre com uma bebida quente e dois dedos de conversa com Roberto, o dono do albergue rural, com quem partilhamos as historias fantásticas de mais um dia inesquecível neste verdadeiro Paraíso Natural!
A atmosfera silenciosa é interrompido a espaços pelos últimos bramidos da "berrea"...
Mais acima, um veado macho persegue, incansável, um grupo de fêmeas por entre uma manada de vacas!!!
Já só nos falta uma descida abrupta até à povoação de onde partimos...
Como é normal no vale de Saliencia, o dia termina sempre com uma bebida quente e dois dedos de conversa com Roberto, o dono do albergue rural, com quem partilhamos as historias fantásticas de mais um dia inesquecível neste verdadeiro Paraíso Natural!
1 comentários:
Fantástico, Paulo!!!
Já tinha passado pelo seu blogue mas não tinha ainda tido tempo para me deter e ler com atenção. A mim também me encanta toda a Península, especialmente o Cantábrico e neste as Ubiñas.
Cumprimentos!
Carlos Afonso
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