Depois de no passado post ter descrito a caminhada de aproximação à Garganta do Dobra a partir da zona de Covadonga, nas próximas linhas vou falar noutra abordagem não menos espectacular, partindo agora da aldeia de Amieva, no limite ocidental do Parque Nacional dos Picos da Europa.
O objectivo será, desta vez, uma aproximação à margem esquerda do rio Dobra, colocando-nos mais uma vez na zona de confluência com os rios Pelabarda, Pomperi e Junjumia.
Apesar de ser menos extensa que a anterior, esta abordagem tem a particularidade de não ter qualquer trilho marcado, obrigando-nos a percorrer zonas de mato rasteiro, sempre atentos ao mapa e à bússola, em busca do terreno mais favorável.
Podemos visualizar abaixo o mapa detalhado da caminhada.
Mapa da caminhada
O início do passeio começa junto ao casario da aldeia, onde se disfruta de uma vista soberba para sudeste surgindo, como cenário de fundo, os cumes nevados do Maciço Ocidental dos Picos da Europa, contrastando com os prados verdejantes e as copas das faias, nesta altura despidas pelos rigores do Inverno.
Vista da aldeia de Amieva
Caminhando por entre o casario da aldeia, sempre a subir, o primeiro objectivo será atingir o estradão em terra batida que se dirige ao Collado El Cueto Angón e à mini-hídrica de El Restaño, formando uma parte da conhecida Senda del Arcediano, uma das mais frequentadas das Astúrias.
Contudo, cedo abandonaremos esta pista, mais concretamente junto a uma cabana que surge no nosso lado direito, enfrentando em seguida uma penosa subida na vertente oeste do cume de Los Redondos (1242 m).
Local onde deveremos abandonar o trilho
Ao longo da abrupta subida, o nosso esforço vai sendo progressivamente compensado à medida que a nossa vista consegue abarcar domínios mais vastos...
Destaco a vista para oeste-sudoeste, onde se ergue em todo o seu esplendor o Cordal de Ponga, uma zona apaixonante pela sua beleza, tranquilidade e riquíssimo património natural!
Cordal de Ponga
Olhando para norte podemos visualizar o troço do vale do rio Dobra a montante até bem próximo do seu nascimento, serpenteando por entre os faiais de Vegabaño.
Vale do Dobra
À direita surge o cume do Canto Cabronero
Continuando a subir vamos, agora, aproximando-nos da portela que separa os cumes do Primiello e Los Redondos, caminhando a meia altura na encosta deste último.
Portela entre Los Redondos e o cume do Primiello
Ao fundo surge uma escarpa sobranceira ao Rio Dobra
Continuando a rodear a vertente, sempre a meia encosta, o buraco que vai surgindo à nossa frente não pára de se afundar... Parece não ter fim...
Precisamos de trepar a um conjunto de pedras que surge diante de nós para visualizar na sua plenitude a tão desejada Garganta do Dobra!
Garganta do Dobra
As formas de relevo que surgem aos nossos olhos, esculpidas ao longos dos séculos pelas forças erosivas das águas, gelos e ventos, fazem-nos sentir insignificantes no meio de cenário tão grandioso...
Troço do Dobra a montante
Neste habitat abrupto onde poucos sobrevivem, as rapinas e outras aves rupículas encontram o ecossistema ideal para construir os seus ninhos e criar em segurança a sua prole todas as primaveras.
Por aqui quem domina é a Águia Real (Aquila chrysaetos), caçando frequentemente nos prados alpinos acima do vale, para mais facilmente transportar as pesadas presas para o ninho, em descida, na altura da criação.
O Grifo (Gyps fulvus), um dos visitantes mais frequentes da Garganta do Dobra
Mesmo diante de nós surge a confluência do rio Pelabarda com o Dobra e o Bosque de Pome em toda a sua extensão. Na verdade, podemos apreciar daqui toda a caminhada descrita no post anterior, inclusivamente o ponto onde nos acercamos da Garganta.
Vale do rio Pelabarda com o Bosque de Pome no fundo
Trata-se, de facto, da maneira mais fántastica de terminar estes dois dias inesquecíveis onde tentamos descobrir os segredos mais íntimos deste inacessivel desfiladeiro, para mim, um dos mais espectaculares da orografia ibérica!
Chegou a hora de regressar...
Lá no fundo do vale, 600 m abaixo de nós, as chaminés da aldeia começam a emanar um fumo branco, sinal de que se aproxima mais uma noite fria neste singular vale Asturiano!
3 comentários:
Que viagem!
Fotos fantásticas e texto à altura...
Não vejo a hora de voltar à garganta do Dobra!
Obrigada pela viagem, por alguns instantes senti a neve, e os "senderos", o vento a trespassar-me a cara.
Enviar um comentário