
O Parque Nacional de Aiguestortes i Estany de Sant Maurici, localizado na região norocidental do Pirinéu Catalão, constitui uma das mais espectaculares representações da acção dos glaciares quaternários na orografia Ibérica.
A sua constituição aconteceu no dia 21 de Outubro de 1955, tendo sido o segundo parque pirenaico a receber o título de “Parque Nacional”, logo a seguir ao famoso Parque Nacional de Ordesa e Monte Perdido.
Com uma área aproximada de 40000 hectares, o elemento mais característico deste Espaço Natural é, sem dúvida, a Água!
Durante os diversos períodos glaciares, grandes massas de gelo ocuparam todos estes vales, levando a uma erosão intensa, a qual foi moldando a paisagem até esta adquirir o aspecto actual. Aqui podemos contemplar um número significativo de indícios desta acção glaciar, nomeadamente vales em U, circos e mais de duas centenas de lagos, denominados “estanys”, os quais ocupam a totalidade da área do Parque, constituindo, sem dúvida, a mais importante área lacustre dos Pirinéus. Para além dos lagos, existe um outro fenómeno ligado ao mundo aquático que é característico destas paragens. Refiro-me às denominadas Aiguestortes, autênticas plataformas localizadas no fundo dos vales, onde as águas dos rios, originalmente revoltas, se suavizam, dividindo-se em múltiplos canais que se entrecruzam, formando autênticos meandros, separados por pequenas ilhotas cobertas de musgos, turfeiras e várias espécies arbóreas.
Reflectindo-se nas águas límpidas e azuladas dos lagos, as silhuetas escarpadas dos cumes, com vários roçando os 3000 m de altitude, dão à paisagem um toque de grandiosidade e inacessibilidade.
A estes contrastes orográficos correspondem necessariamente diferentes áreas bioclimáticas, responsáveis pela grande riqueza e diversidade da fauna e flora destas montanhas. Aqui habitam espécies tão importantes como a lontra (Lutra lutra), a camurça (Rupicabra rupicabra), o galo-montês (Tetrao urogallus), o Pica-pau-negro (Dryocopus martius), a Águia-Real (Aquila chrysaetos) e o gigante Quebra-ossos (Gypaetos barbatus). O coberto vegetal é riquíssimo, com importantes bosques de abetos, pinheiro-negro e faia.
Trata-se, na verdade, de mais um pequeno paraíso, que representa na perfeição os valores paisagísticos e biológicos das nossas Montanhas Ibéricas!
Nos próximos posts convido o leitor a descobrir comigo alguns dos segredos mais bem guardados destas paragens…