A nível mundial, o número de projectos de estudo com base nas câmaras automáticas é cada vez maior. Leopardo-das-neves (Panthera uncia) na Ásia, Jaguar (Panthera onca) na Bolívia, Glutão (Gulo gulo) nos EUA, Urso-pardo (Ursus arctos) e Lince-ibérico (Lynx pardinus) em Espanha, são algumas das espécies monitorizadas por este recurso e sobre as quais se sabe mais hoje em dia.
O lobo é uma das poucas espécies cuja biologia ainda não foi possível caracterizar com base neste método. Será por associarem as câmaras ao homem, o seu arqui-perseguidor, o que os afasta das mesmas? Ou terá a ver com o terreno por onde se deslocam mais frequentemente (estradões, cumeadas, portelas...), menos acessível às câmaras ? Honestamente, ainda não encontrei uma resposta definitiva...
No entanto, as câmaras automáticas servem também para provar que na natureza não existem padrões. Num screening recente (Outubro/2006) de uma zona florestada do norte do distrito de Vila Real, tive a oportunidade de documentar uma série de 22 fotos de um exemplar de lobo-ibérico (Canis lupus signatus). A zona encontra-se próxima de um local de criação histórico, confirmado pelos dados do Censo Nacional de Lobo Ibérico 2002/2003, recentemente publicado pelo ICN/Grupo Lobo. Este lobo, de médio porte, pelagem clara e aparentando insuficiente estado nutricional, surgiu junto à câmara no fim da tarde do dia 7/10 e por aí ficou durante a noite, para voltar a ser fotografado, dias depois, noutra estação fotográfica 500m a montante do vale. Seria uma jovem cria do ano, inexperiente, em explorações ao seu novo território? Ou um sub-adulto, recentemente expulso da alcateia? E porque não um lobo solitário, em busca de uma alcateia receptiva...
Por mais que queiramos conhecer e compreender, a nós, amantes da natureza, só nos é permitido desvendar pequenos pormenores deste enigma que é a biologia animal... É por isto que esta actividade é mais do que um hobbie... É uma verdadeira paixão!