Do grupo dos super-predadores que ocupam o topo da cadeia trófica nos ecossistemas peninsulares, a águia-real (Aquila Chrysaetos) assume um papel de destaque pela sua imponência, poderio e elegância.
Outra característica não menos admirável diz respeito à monogamia presente entre os casais, associada a uma ocupação do espaço fortemente territorial, o que explica alguns dos comportamentos mais fantásticos desta ave como são, por exemplo, a agressividade que mostra perante outras aves "invasoras" na defesa dos seus domínios e, não menos espectacular, os voos nupcias realizados em meados de janeiro e que antecipam o acasalamento.
Águia-real defendendo o seu território face a um casal de cegonha-branca (Ciconia ciconia) em pleno Vale do Rio Sabor
O território escolhido pela águia-real é representado por áreas pouco humanizadas, preferencialmente vales fluviais com encostas declivosas e escarpadas, circundados por longas extensões de terreno pouco arborizado, que coincidem com as áreas de caça. Abaixo deste palco, nas fragas mais inacessíveis, encontramos vários ninhos que vão sendo ocupados ciclicamente para a nidificação, ano após ano. Tratam-se dos maiores ninhos entre o mundo das aves podendo atingir um perímetro de cerca de 3 metros e pesar várias dezenas de quilos!
Por esta altura do ano, após a eclosão dos ovos ocorrida no final de Maio, é de esperar a ocupação do ninho por um ou, menos frequentemente, dois aguiotos os quais, nesta fase, passam por um período de total dependência dos progenitores em termos alimentícios.
Jovem aguioto fotografado no ninho em meados de Julho de 2004 num curso de água, afluente do Rio Sabor
É nesta fase que os progenitores iniciam em conjunto largas jornadas de caça nas cumeadas circundantes ao ninho, visando presas de diferentes portes, desde pequenos répteis até mamíferos com peso considerável, tais como raposas ou crias de ungulados silvestres.
Casal de águia-real fotografado no Verão de 2005 no Parque Natural de Somiedo (Astúrias) em claro comportamento predatório
Após a captura das presas nas zonas altas da serra, o progenitor crava as suas potentes garras na peça e transporta-a em voo descendente até ao ninho.
Garanto-vos, por experiência pessoal, que esta é, sem sombra de dúvida, uma das cenas mais emocionantes que se podem contemplar nas nossas montanhas!
No conjunto da valiosa obra de Felix Rodriguez de la Fuente encontramos um registo inesquecível, inserido num dos capítulos de "O Homem e a Terra". Trata-se de uma impressionante captura de uma pequena cabra-montês (Capra pyrenaica) por uma águia-real adulta numa zona escarpada, seguida de uma vertiginosa descida com a presa nas garras no interior de um apertado desfiladeiro, até atingir o ninho!
Apesar da situação da águia-real em Espanha ser no presente pouco preocupante, havendo até indícios de um incremento recente do número de casais reprodutores, em Portugal mantém o estatuto de conservação "Em Perigo". Em relação com o facto apresentado anteriormente, a distribuição de casais concentra-se maioritariamente em zonas transfronteiriças, sendo de realçar a situação de pré-extinção no noroeste português, historicamente ocupado por vários casais. Falo concretamente do desaparecimento recente do casal que nidificava há muitos anos nas fragas da Serra do Marão e na solitária fêmea que representa a última rainha na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)...
Espero que o futuro retribua esta nobre ave às serranias do extremo norocidental português...
O vôo solitário da última águia-real na área do PNPG ( foto de 2005)
8 comentários:
alô! sou do rio de janeiro e seu blog
tá espetacular. fui ao Portugal e tenho fotos boas da serra da estrela, voce quer que eu mande?
voce ja fui a amazonia? é uma natureza bela, como montanhas ibéricas.
Não tem deixado textos. Não costumo comentar mas leio sempre seu blog. Tema interessante!
Deve ser de facto uma imagem espectacular ver uma ave deste porte caçar a sua presa. Sinto uma enorme tristeza pelo desaparecimento destes predadores dos céus do nosso Portugal!
Paulo,
o teu desejo foi escutado e, segundo as notícias de hoje, já estão a preparar a reprodução em cativeiro da águia-real. O processo de repovoamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês já está em funcionamento... agora resta esperar para ver de novo a águia-real voar pela linda paisagem da Peneda-Gerês.
Sofia
Não se deixem iludir pelo suposto trabalho de reprodução da aguia no Gerês. Existem outros motivos não mostrados para a população em geral para que essa noticia tenha saído nesses moldes. A verdade um dia virá ao de cima.
Eu por acaso também já ouvi falar da barracada das águias reais do Gerês... Mas não entendi muito bem o que se passou. Precisavam de tirar as aguias urgentemente de lá porquê? Será que alguém me pode explicar?
Porque será que existem pessoas que quando querem dizer mal só o fazem sob a capa do anonimato? Que cobardia e mau carácter. Não merecem resposta.
sou de sao paulo eu amei seu blog.eu queria saber se os pes delas pode quebrar um braco de homem,pq eu axistir um comentario sobre isso
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