MONTANHAS IBÉRICAS

Neste Blog partilho com os leitores a minha paixão pelas Montanhas Ibéricas, lugares únicos, cada vez mais raros, onde a beleza das paisagens, a preservação dos ecossistemas e a utilização sustentável pelo homem se unem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

11 março 2006

VIAGEM AO PARAISO BRANCO (Fevereiro de 2006)

Publicada por Paulo Almeida Santos



Era já madrugada quando cruzámos a aldeia de Santa Maria del Puerto, a quase 1500 m de altitude, antecâmara do paradisíaco Parque Natural de Somiedo!
Seria mais uma chegada tranquila aos domínios asturianos, não fosse a violenta tempestade de neve e vento que se abatia sobre estas montanhas na altura da nossa passagem e que começara, bem mais atrás, nas terras do Bierzo leonês…
É nestas alturas que somos tentados a questionar a teoria do Aquecimento Global. Na verdade, os últimos Invernos têm sido bastante rigorosos, com nevadas copiosas (algumas delas bastante tardias), recordes de temperaturas mínimas batidos e outros fenómenos meteorológicos atípicos.
Foi desta maneira sofrida que, a muito custo, conseguimos cruzar o Puerto de Somiedo, rodeados por muros de neve com mais de 2 m de altura, na esperança de nos 2 dias seguintes conseguirmos realizar outras tantas caminhadas.
A manhã seguinte acordou algo solarenga na aldeia de Pola de Somiedo, ainda pintada de branco pela neve caida na última semana!

La Corona (1266 m), sobranceira à aldeia de Pola de Somiedo

A aproximação ao início do trilho faz-se por uma estrada de montanha, de onde se disfrutam vistas magníficas.



Pola de Somiedo

Em poucos minutos atingimos a pitoresca aldeia de Coto de Buenamadre, autenticamente soterrada pela neve!



Coto de Buenamadre

A partir deste ponto a estrada ganha rapidamente altura, colocando-nos em frente a um dos mais espectaculares e impenetráveis bosques de Somiedo, o Monte La Enramada, classificado como Área de Uso Restrigido dado o seu alto valor biológico.



Monte La Enramada. À esquerda, Peña Furada. Em último plano, Peña Chana.

Mais à frente surge a aldeia de Valle de Lago, ponto de partida da nossa caminhada, a cerca de 1200 m de altitude.



Valle de Lago. Ao fundo, os Picos Albos

O trilho realizado,com cerca de 3 Kms, discorre no fundo de uma garganta sulcada pelas águas do Rio Bobia, delimitada, à esquerda, pelos cumes do cordal do Gurugú e, à direita, pelo cordal do El Tarambicu.

Início do trilho

Desde cedo fomos brindados com uma intensa nevada, que se prolongou durante toda a caminhada, engrossando o amplo manto de neve caido nas últimas semanas.

Aproximação da tempestade

A progressão nestas condições tornou-se bastante dfícil tendo em conta a altura da neve, só sendo possível graças à orientação descendente do trilho, ou o que restava dele...


Aspecto do trilho

Neste mundo gelado e hostil não éramos os únicos a passar dificuldades... Por entre as escarpas rochosas que delimitam o vale, grupos de camurças (Rupicabra rupicabra) procuravam de forma inglória algum alimento, congelado 2 m abaixo do manto branco.


Grupo de camurças progredindo com dificuldade no meio da neve

Olhando para trás, conseguimos ter uma boa perspectiva do relevo do vale e das faias que, desde a sua base, "trepam" com força e vigor as suas paredes verticais!


Vista do vale a montante

Em pouco mais de uma hora chegamos ao fim do passeio, agora a uma cota mais baixa, com menos neve e com uma melhoria das condições meteorológicas.
Despedimo-nos com uma visão fantástica do Monte Tibleos, um dos bosques mais recônditos destas paragens, envolvido numa névoa que lhe conferia um ar místico, inacessível e, ao mesmo tempo, encantador...


Monte Tibleos