MONTANHAS IBÉRICAS

Neste Blog partilho com os leitores a minha paixão pelas Montanhas Ibéricas, lugares únicos, cada vez mais raros, onde a beleza das paisagens, a preservação dos ecossistemas e a utilização sustentável pelo homem se unem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

23 junho 2007

AGUIA-REAL - A RAINHA DAS ALTURAS

Publicada por Paulo Almeida Santos

Juvenil de águia-real (Aquila Chrysaetos) em voo planado no vale do Rio Sabor

Do grupo dos super-predadores que ocupam o topo da cadeia trófica nos ecossistemas peninsulares, a águia-real (Aquila Chrysaetos) assume um papel de destaque pela sua imponência, poderio e elegância.
Outra característica não menos admirável diz respeito à monogamia presente entre os casais, associada a uma ocupação do espaço fortemente territorial, o que explica alguns dos comportamentos mais fantásticos desta ave como são, por exemplo, a agressividade que mostra perante outras aves "invasoras" na defesa dos seus domínios e, não menos espectacular, os voos nupcias realizados em meados de janeiro e que antecipam o acasalamento.

Águia-real defendendo o seu território face a um casal de cegonha-branca (Ciconia ciconia) em pleno Vale do Rio Sabor


O território escolhido pela águia-real é representado por áreas pouco humanizadas, preferencialmente vales fluviais com encostas declivosas e escarpadas, circundados por longas extensões de terreno pouco arborizado, que coincidem com as áreas de caça. Abaixo deste palco, nas fragas mais inacessíveis, encontramos vários ninhos que vão sendo ocupados ciclicamente para a nidificação, ano após ano. Tratam-se dos maiores ninhos entre o mundo das aves podendo atingir um perímetro de cerca de 3 metros e pesar várias dezenas de quilos!
Por esta altura do ano, após a eclosão dos ovos ocorrida no final de Maio, é de esperar a ocupação do ninho por um ou, menos frequentemente, dois aguiotos os quais, nesta fase, passam por um período de total dependência dos progenitores em termos alimentícios.

Jovem aguioto fotografado no ninho em meados de Julho de 2004 num curso de água, afluente do Rio Sabor

É nesta fase que os progenitores iniciam em conjunto largas jornadas de caça nas cumeadas circundantes ao ninho, visando presas de diferentes portes, desde pequenos répteis até mamíferos com peso considerável, tais como raposas ou crias de ungulados silvestres.

Casal de águia-real fotografado no Verão de 2005 no Parque Natural de Somiedo (Astúrias) em claro comportamento predatório


Após a captura das presas nas zonas altas da serra, o progenitor crava as suas potentes garras na peça e transporta-a em voo descendente até ao ninho.
Garanto-vos, por experiência pessoal, que esta é, sem sombra de dúvida, uma das cenas mais emocionantes que se podem contemplar nas nossas montanhas!
No conjunto da valiosa obra de Felix Rodriguez de la Fuente encontramos um registo inesquecível, inserido num dos capítulos de "O Homem e a Terra". Trata-se de uma impressionante captura de uma pequena cabra-montês (Capra pyrenaica) por uma águia-real adulta numa zona escarpada, seguida de uma vertiginosa descida com a presa nas garras no interior de um apertado desfiladeiro, até atingir o ninho!



Apesar da situação da águia-real em Espanha ser no presente pouco preocupante, havendo até indícios de um incremento recente do número de casais reprodutores, em Portugal mantém o estatuto de conservação "Em Perigo". Em relação com o facto apresentado anteriormente, a distribuição de casais concentra-se maioritariamente em zonas transfronteiriças, sendo de realçar a situação de pré-extinção no noroeste português, historicamente ocupado por vários casais. Falo concretamente do desaparecimento recente do casal que nidificava há muitos anos nas fragas da Serra do Marão e na solitária fêmea que representa a última rainha na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG)...
Espero que o futuro retribua esta nobre ave às serranias do extremo norocidental português...


O vôo solitário da última águia-real na área do PNPG ( foto de 2005)

01 junho 2007

RÃ-IBÉRICA - UM ENDEMISMO PENINSULAR

Publicada por Paulo Almeida Santos

Exemplar de rã-ibérica (Rana iberica) fotografado na Primavera de 2007 num afluente do Rio Homem na área do Parque Nacional da Peneda-Gerês

A rã-ibérica (Rana iberica) é um anfíbio endémico da Península Ibérica, ocorrendo normalmente em zonas montanhosas, nas imediações de ribeiros com vegetação abundante nas margens, cujos biótipos circundantes são frequentemente constituídos por bosques caducifólios ou lameiros. Pode, no entanto, ocorrer numa grande variabiliade de habitats, distribuindo-se desde o nível do mar até acima dos 2000m de altitude.

Habitat típico da rã-ibérica.
Ribeiro de Cagademos (PNPG).

O seu comprimento raramente ultrapassa os 55 mm sendo os maiores tamanhos alcançados pelas fêmeas. Apresenta uma característica mancha retro-ocular escura, que vai diminuindo de largura até à parte posterior e, debaixo desta, uma estreita bando esbranquiçada que se estende desde a parte inferior do olho até à comissura labial.
Apresenta uma actividade tanto diurna como nocturna, encontrando-se activa durante todo o ano, embora seja mais discreta nos dias frios do Inverno.


A área de distribuição limita-se ao quadrante noroeste Peninsular. Em Portugal distribui-se quase exclusivamente a norte do rio Tejo, com excepção de uma população isolada na Serra de S. Mamede.
Trata-se de uma espécie não ameaçada na actualidade, embora haja populações fragmentadas mais sensíveis (S. Mamede, País Basco, Sistema Central), cujas principais ameaças são a perda de habitat e a introdução de espécies de peixes exóticas, especialmente o salmão.

Área de distribuição da rã-ibérica na Península Ibérica.