MONTANHAS IBÉRICAS

No início de Dezembro voltei mais uma vez às montanhas Asturianas para uns dias de descanso. Após um Outono particularmente chuvoso e quente, estes dias iriam coincidir com o primeiro grande nevão invernal. E que nevão… Acima dos 400 m de altitude tudo era branco! Nos cumes, nas portelas batidas pelo vento, no bosque já despido, o manto de neve engrossava a um ritmo alucinante ocultando, com frieza, o pouco que restava dos quentes tons Outonais. Era o primeiro… e o último fôlego, para já, deste incaracterístico Inverno. Dizem os entendidos que estes serão os pródromos de uma mais do que anunciada alteração climática à escala mundial, fruto do aquecimento global. É provável que sim…
Como é natural, alguns dos grandes prejudicados com este fenómeno são os detentores da exploração das pistas de ski, que esperam e desesperam pela caída da neve. As notícias mais recentes não são encorajadoras, apontando para o encerramento de 25 % das estâncias alpinas num prazo de duas décadas devido à redução dos mantos nivosos.
Este tema leva-me a fazer um comentário sobre o futuro complexo invernal de San Glorio, um tema polémico muito actual em Espanha. Este complexo será implantado em plena Montanha Palentina, abrangendo três províncias espanholas (Castela, Palência e Cantábria), contando com cerca de 50 Km esquiáveis, o que o transformará numa das maiores estâncias espanholas. Contudo, este mega-empreendimento irá ficar implantado numa área ambientalmente bastante sensível, nomeadamente nos domínios do Parque Natural de Fuentes Carrionas e do Vale de Liébana, catalogada como Rede Natura 2000, lugar de interesse comunitário (LIC), zona de interesse estratégico para a conservação do urso pardo (Projecto Lyfe) e proposta para zona especial de protecção de aves (ZEPA). Para além de outros notáveis valores faunísticos, interessa referir a importância destas montanhas para a conservação do urso pardo (Ursus arctos), constituindo uma importante área vital para o mesmo, quer de refúgio, quer como corredor biológico, principalmente tratando-se de uma sub-população oriental, cada vez mais isolada e ameaçada pelos perigos da consanguinidade.
Sobre esta problemática, é importante relembrar as notícias mais recentes, referentes ao Parque Natural de Somiedo (PNS), integrado no concelho homónimo. Este, antes da declaração do Parque há cerca de 18 anos, situava-se na cauda dos municípios asturianos no que toca ao rendimento per capita, equiparando-se, no presente, aos mais industrializados e com maiores rendimentos. Um verdadeiro exemplo de gestão e sustentabilidade.
Posto isto, sou frontalmente contra a estância de San Glorio, dado que se trata de um projecto a prazo, que não respeita os valores ambientais da zona e que vai deixar uma “cicatriz” numa área com um valor paisagístico notável.
Termino com algumas fotografias raras (talvez únicas!) deste estranho Inverno…