MONTANHAS IBÉRICAS

Neste Blog partilho com os leitores a minha paixão pelas Montanhas Ibéricas, lugares únicos, cada vez mais raros, onde a beleza das paisagens, a preservação dos ecossistemas e a utilização sustentável pelo homem se unem de uma forma harmoniosa e equilibrada.

28 junho 2008

PNPG INTEGRA A REDE PAN PARKS

Publicada por Paulo Almeida Santos

“Rushing wild rivers, ancient forests, towering mountains; in Europe there is a jungle, indeed there are many. Bears, wolves, eagles and bison live in these jungles, Europe's national parks. And yet, most Europeans are unaware of all but a few well-known forests and mountain ranges. The lack of awareness is reflected in a lack of investment, institutional resources, and pride for these jewels of nature.”


As primeiras linhas do site da PAN (Protected Area Network) Parks chamam de imediato à atenção do visitante para o valor e a seriedade deste importante projecto, desenvolvido pela WWF em 1997 no âmbito da sua actuação a nível europeu.
Conservação da Natureza e Desenvolvimento Sustentável, desde o Ártico ao Mediterrâneo, são os valores essenciais que imperam nesta iniciativa.


Parque Nacional de Bieszczady na Polónia, pertencente à rede PAN Parks desde 2002


À rede actual composta por 10 Áreas Protegidas distribuídas pelo continente europeu, vem juntar-se desde Junho de 2008 o “nosso” Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), o que muito nos deve orgulhar, sendo o único representante ibérico neste grupo de excelência.
Este reconhecimento não deve, contudo, negligenciar o muito trabalho que ainda tem de ser levado a cabo pelos responsáveis do PNPG em áreas tão críticas como o combate aos incêndios, reflorestação, vigilância do meio e conservação das espécies, bem como à criação de mecanismos que permitam fixar e incentivar as populações do Parque. O incêndio do Ramiscal, a expansão das acácias no vale do Gerês ou a pré-extinção da águia-real, são exemplos recentes de atentados ambientais que têm de ser rapidamente resolvidos, de forma a preservar um dos raros ecossistemas de montanha que nos resta, já que tudo o resto foi ou será dizimado…

Paisagem típica do PNPG, o mais recente membro da rede PAN Parks

7 comentários:

Sophia disse...

Paulo,
Foi com um enorme prazer e agrado que, quando abri agora a página do teu blog, reparei que tinhas voltado aos teus deliciosos e estimulantes textos.
É uma óptima notícia saber que o PNPG integra a rede Pan Parks. Concordo com o que afirmas; ainda há muita coisa para fazer... mas já é um bom ponto de partida.
Daqui a uns tempos, depois de recuperado, o PNPG vai passar a ser um lugar de romaria!
Adorei a notícia e teres voltado a escrever.
Obrigado pelos teus textos!
Beijinhos,
Sofia

joca disse...

Sou um visitante regular do PNPG e tenho uma ideia muito contrária quanto ao trabalho desenvolvido pelo parque. Situação que atribuo mais à falta de meios e orientações do ICNB do que aos técnicos.
Tenho familiares nas zonas do PNPG e conheço bem os seus problemas. E sobre fixar as populações ... o PNPG não faz e nem pode fazer nada. Faltam-lhe recursos e estratégia.
A expansão das acácias no vale do Gerês é o maior exemplo da incapacidade do ICNB.
O incêndio do Ramiscal, que começou longe e demorou uns dois dias a chegar aos limites do PNPG continua por explicar.
É por isso que recebo a notícia sobre os PAN PARKS com um misto de alegria e preocupação.
Não percebo onde está a área mínima sem intervenção do homem.
Temo que não passe de uma fuga para a frente.
Temo que os mais prejudicados venham a ser as populações para se criar uma reserva para ambientalistas domingueiros e urbanos.
Temo que os apaixonados pelo PNPG sejam expulsos pelo negócio.
A verdade é que o PNPG nunca cumpriu os seus deveres com as populações. A estas simplesmente impôs obrigações sem contrapartidas suficientes. Nunca vi do PNPG com meios adequados ao único Parque Nacional. Eventualmente fica demasiado a norte. Será desta?

Paulo Almeida Santos disse...

Caro Joca:
Em primeiro lugar gostaria de agradecer o seu comentário, que me pareceu bastante estruturado e com conhecimento de causa.
Na verdade, grande parte da inércia que se verifica na actuação dos responsáveis do PNPG tem a sua génese na falta de apoios por parte do ICNB, na sua maioria por razões económicas. Por outro lado, este organismo encontra-se completamente “politizado” e isto repercute-se obviamente nas nomeações para os cargos dirigentes das Áreas Protegidas. Basta lembrar a grande maioria dos directores do PNPG dos últimos 10-20 anos para atestar isso: pessoas sem curriculum, sem nenhuma ligação ao Parque e completamente desfasados dos seus problemas.
Durante a última década observei de perto o dia-a-dia do PNPG e tenho conhecido muita gente, dentro e fora do Parque. Já conheci pessoas bastante válidas, completamente desmotivadas e resignadas, muitas das quais envolvidas numa máquina burocrática da qual não conseguem sair. Outros que lutam sozinhos, realizando trabalho que não é reconhecido e valorizado. Ainda outros, desempenhando funcões para as quais não têm qualquer perfil, caindo frequentemente em actos negligentes.
Apesar de tudo, nos últimos tempos penso que têm surgido alguns responsáveis bem intencionadas e nos quais deposito a minha esperança. Espero que tenham os apoios necessários e que esta integração na rede PAN Parks seja mais um factor para a valorização do nosso único Parque Nacional.

Sophia disse...

Caríssimos Joca e Paulo:
O que o Joca diz parece-me ter fundamento de verdade. Realmente, analisando as coisas ao longo dos tempos, concluímos que nunca foi dado ao PNPG o verdadeiro valor, talvez porque quem a ele se dedicou fazia-o apenas por obrigação. Mas apesar da real preocupação dele (que se estende a todos aqueles que gostam da Natureza), temos de pensar com optimismo e esperança de que um dia tudo irá melhorar. Há que pensar que a integração na rede Pan Parks será uma porta aberta para um futuro risonho.
Abraço!
Sofia

joca disse...

Como o Paulo e a Sophia desejo que seja. Encontrei recentemente um artigo (http://www.sisgeenco.com.br/sistema/encontro_anppas/ivenanppas/ARQUIVOS/GT3-268-67-20080424100055.pdf?PHPSESSID=ed8af835ef4d4bca85df2d5bd723b059) que dá um enquadramento interessante a algumas questões. Aparentemente o director do PNPG é um dos autores.
Recentemente avistei o que julgo serem cabras selvagens machos e mais tarde um grupo de cabras fêmeas. As segundas estavam muito distantes e tenho algumas duvidas sobre se seriam cabras ou corços. Há comportamentos sociais entre ambos q possam ajudar a esclarecer a minha dúvida.

Paulo Almeida Santos disse...

Olá Joca!
Em primeiro lugar, peço desculpa pela resposta tardia...
Quanto ao seu avistamento, devo dizer que com maior probabilidade correspondeu a grupos de cabras-montesas, sobretudo se aconteceu numa zona aberta de maior altitude. Durante a maior parte do ano existe uma clara divisão entre grupos formados exclusivamente por fêmeas (com as respectivas crias) ou machos,só quebrada na altura do cio (Novembro-Dezembro), altura em que os combates entre os machos acontecem, um espectáculo a não perder pelos amantes da nartureza! O vencedor tem direito a fecundar a manada de fêmeas.
Depois de passado mais de um século após a extinção da cabra-montês do PNPG, agora é possível com relativa facilidade avistar esta espécie, já que os seus três núcleos populacionais mostram um incremento impressionante nos últimos anos.
Cumprimentos e boas observações!
Paulo Santos (montanhasibericas.blogspot.com)

Filipe Mota Pires disse...

Porque entendo que o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) atravessa um momento delicado, deixo aqui o meu contributo para que não se desarme a luta que temos de enfrentar para fazer valer os nossos direitos.
Actualmente, encontra-se em revisão o novo Plano de Ordenamento do PNPG (PNPG) que visa, sobretudo e tal como diz o seu artigo 2.º, ponto 3, alínea d : “assegurar o cumprimento das obrigações que decorrem para o PNPG com a sua integração na rede PAN-Parks, nomeadamente a criação de uma zona de protecção total com um mínimo de dez mil hectares (wilderness area) com ênfase exclusivo na manutenção e restauração dos processos ecológicos”.
Posto esta breve apresentação, gostaria de vos alertar para algumas questões que se prendem com as consequências para as populações locais, especialmente no que respeita à freguesia de Vilar da Veiga (embora muitas outras se encontrem na mesma situação, como por exemplo a Freguesia do Campo do Gerês) que, sendo já duramente “castigada” com o actual POPNPG, e recordando que este duro castigo já começou no tempo do Estado Novo com a questão dos Serviços florestais, passou depois pela vinda, por volta dos anos 50, da Albufeira da Caniçada que submergiu toda a riqueza (a Veiga ficou lá no fundo) da nossa freguesia. Passou, entretanto, pelo Plano de Ordenamento da Albufeira de Caniçada (POAC) que, imagine-se, já não bastava a Albufeira nos ter retirado as terras uma vez, voltamos a ter de ceder novamente, isto porque o POAC veio retirar área de construção e continua a fazer com que, ano após ano, os nossos jovens tenham de procurar outras paragens, por manifesta falta de terreno para construír.
Temos agora, um novo POPNPG.
Com a referida integração do PNPG na rede PAN-PARKS, e tal como demonstra o artigo supra citado, existe a necessidade de alterar,consideravelmente, alguns pontos fulcrais no (plano) que actualmente vigora. Nomeadamente, no ponto 4 do art.11º, em que o novo POPNPG prevê que “As áreas demarcadas como de protecção total, quando não integrem o domínio público ou privado do estado, estão sujeitas a expropriação nos termos da lei, devendo ser, prioritariamente, objecto de contratualização com os proprietários ou, no caso de terrenos comuns, com os compartes, tendo em conta os objectivos de conservação da natureza”.
Ora, aqui reside a minha maior preocupação. Dentro dessa área de protecção total e, como muitos de vós sabeis, existem terrenos comunitários que pertencem aos baldios e às vezeiras de gado que, dando o exemplo da de Vilar da Veiga, conta mais de 400 anos, constituíndo um património histórico e sócio-cultural de valor incalculável, pelo menos para as gentes que o percorrem à centenas de anos e, também, porque é património que nos pertence, e que nos foi transmitido de geração em geração pelos nossos antepassados!
Desde já, defendo que o ideal seria, a conciliação de interesses, nomeadamente através da adesão ao PAN-Parks, se isto não interferisse com as actividades quotidianas das populações locais. Mas, pergunto como vai ser resolvida esta questão, ainda mais porque, em todo este processo, o Sr. Director do PNPG apenas avisou a população da possibiliade da perda de direitos consagrados há séculos, relativamente há pouco dias, e sob pressão de outras instituições!
Vou ainda mais longe...e pergunto se a pastorícia é incompatível com a protecção da natureza dentro do PNPG? Para dar um exemplo, o insuspeito Prof. Dr. Jorge Azevedo (Antigo Presidente do Conselho Científico da UTAD) argumentava o seguinte relativamente à pastorícia: “(...) A importância desta prática, ao longo dos séculos, não só ao nível do bom funcionamento dos sistemas agro-florestais, mas também como modo de redução dos incêndios florestais”.
Posto tudo isto, não terá a população ainda mais razões para se sentir traída e enganada? Não estão todas as sucessivas direcções do PNPG já avisadas para o facto de a população viver de costas voltadas para o parque?! Fartas de perder direitos?! Será que não fomos nós, os residentes do PNPG que o preservamos até o mesmo ser constítuido? Será que a população está a mais, e agora estes novos “gestores” apenas se preocupam com a fauna e a flora?
Permito-me transcrever aqui o que o Prof. José de Almeida Fernandes dizia acerca de questões similares: “Que reacção se espera do cidadão a quem um estranho, representante da autoridade, venha obrigar a utilizar o que é seu segundo critérios que lhe são alheios e que não entende? Que colaboração se pode pedir a este cidadão para a correcta gestão da utilização da sua propriedade privada? Onde pára o preceito constitucional do direito de propriedade?
(...) Desçamos à realidade concreta. Há que pagar, indemnizar, todos aqueles que tiveram o “azar” de se verem incluídos nos perímetros das áreas classificadas, e se perguntam porque lhes coarctam os direitos e lhes mantêm os deveres, ou até os aumentam, em relação aos que tiveram a “sorte” de ficar fora desses perímetros. Supomos que não há um mínimo de justiça equitativa neste caso, mas é isto que tem acontecido no nosso país” in Do Ambiente Propriamente Dito, IPAMB, Lisboa, 2001, p. 145.
Acrescentaria que, e não querendo ser pessimista, a aprovação deste Plano de Ordenamento, pode significar a destruição de zonas tão importantes como a mata da albergaria, todos os currais da vezeira, a zona da estrada da bouça da mó, pedra bela, etc... isto porque sem diálogo, e com as populações a sentirem-se injustiçadas, acredito e temo que recorrerão a tudo o que estiver ao seu alcance para defender as suas terras e sobretudo as suas raízes. E quem sabe, a mais valia que constitui a adesão ao PAN-PARKS hoje, não seja afinal, o princípio do fim do PNPG.
Apelo, portanto, à vossa ajuda, através de ideias e/ou estratégias para não permitir que o novo POPNPG seja imposto à rebelia das populações, sendo apenas e só elaborado por alguém que está em Lisboa, num gabinete, e que nem sequer se dá ao trabalho de vir escutar quem mora dentro do Parque, de vir aferir o sentir destas populações que, mais uma vez, têm de se defender, lamentavelmente, sozinhas.
Temos todos de unir esforços urgentemente e, de uma vez por todas, assumir também o nosso papel no bom funcionamento do PNPG que, antes de mais, é o NOSSO PARQUE!

Obrigado